83
Este post, surge em homenagem ao número 83. Um número com algum significado especial por várias razões: nasci no ano de 19(83), o prédio onde habito em Portugal é o nº 83 e ,porque o autocarro que me transportou durante muito tempo para a faculdade também ele, era o nº 83. Devem com isto, estar a pensar, que tal como os árabes, sou demente por números, capaz até de comprar uma matrícula com o número 83, por valores que transcendem os vários milhões de Dirhams, tal como os Emiratis o fazem com os seus números predilectos. Meus caros, lamento! Não é o caso. Hoje ao acordar , e sem razão aparente, lembrei-me de todas estas pequenas coincidências, que me fizeram divagar no espaço e sentir uma certa saudade do meu rico solo português. Foi então que me interroguei sobre o regresso… quantos dias faltarão para voltar? Após um breve pingue-pongue matemático, nem quis acreditar no resultado, mais uma vez … OITENTA E TRÊS (83). Será um sinal?
Estando eu, agora, a oitenta e três dias de regressar, e sensivelmente a meio do estágio sinto que chegou a altura de fazer um balanço.
E neste balanço, pesam tanto factores profissionais como pessoais. Para compreenderem de forma “crua” os pensamentos que vos envio à velocidade da luz, considero relevante mencionar, que este é o meu primeiro ensaio como sonhador, aventureiro, talvez até, como herói do mar, ou melhor ainda, como corredor de vagas de mar. Digo, herói do mar pois, até hoje, não houve nenhuma onda, por mais tenebrosa que aparentasse ser, que me fizesse recuar, parar para pensar ou hesitar. No mar reajo normalmente de forma intuitiva, instintiva, algumas vezes impulsiva e até irracional. Também por isso mesmo, dou GRAÇAS A DEUS por nunca me ter dado mal. Mas, esta onda que “agarrei” em Lisboa no dia 23 de Janeiro, que continuo a surfar, e me há-de levar de volta a terra firme, já me deu tempo, mais do que suficiente para pensar, sentir e ainda traçar uma ideia do que será viver por alguns anos, longe da família, dos amigos, das águas frias do nosso mar…no fundo, da nossa zona de segurança, da nossa zona estável, do nosso núcleo, tudo em prol de um sonho, de uma conquista individual e profissional.
Nesta altura, tenho plena consciência de que esta experiência me fará crescer muito mais a um nível pessoal do que profissional. Não quero com isto dizer, que desgoste do trabalho que desenvolvo, pois estou neste momento a acumular know-how numa área que nunca tinha considerado explorar. Porém, acredito que seja essencial para o bem-estar de qualquer expatriado, que viva nos Emirados, sentir-se motivado, ou pelo agradável trabalho, que honra desenvolver, ou então, pelo útil e agigantado ordenado que recebe pelas tarefas que abomina realizar. Ora bem, dada a fase profissional em que me encontro, isto é, no inicio, há momentos em que me sinto, não entre a espada e a parede, mas sim entre a falta de criatividade e a falta de Dihrhams. Passo a explicar, a motivação, do meu ponto de vista, coloca-nos, acredito, mesmo vivendo fora do país, num patamar de segurança pessoal, de conforto emocional e quando a experienciamos, não existe tempo sequer para pensar, muito menos ainda, para dramatizar ou recuar. Ao ingressarmos neste estado, que eu denomino de modus operandi, tornamo-nos determinados, mais focados e com um enorme desejo em progredir e ultrapassarmos limites. Falo com conhecimento próprio, já me testei nestas matérias, quando gosto do trabalho que tenho em mão torno-me Wokaholic, o que nem sempre acaba por ser saudável. E ao longo deste três meses tenho sentido falta, não só de surfar mas também de explorar a minha criatividade tal como fazia na MyBrand ou até em conversas com amigos sobre potenciais tendências/negócios a explorar num mercado global em crise.
Tal como referi, dada a fase em que me encontro e talvez até pela minha inexperiência nestas andanças, creio que se ficasse a trabalhar por terras árabes seria preferível estar a desenvolver capacidades, aptidões e a ser iluminado por visionários numa empresa com valor, do que estar a receber um bom ordenado e a trabalhar numa empresa que pouco contribuísse para o meu futuro como profissional empreendedor.
Contudo, não me esqueço do sentimento que me trouxe em direcção ao desconhecido. A vontade de querer mais, de experienciar mais e de começar a delinear o meu caminho, o meu futuro. Não me esqueço do que disse a mim mesmo antes de partir. “Tu vais… vais arriscar e se tiveres que destilar uma lágrima, já vai ser lá, portanto… Let’s go & “don't worry about a thing, 'Cause every little thing is gonna be all right”, como já dizia o sábio, Bob Marley.
Quem está de fora, não se apercebe, que a fase mais difícil para alguém que parte, para viver noutro país, é precisamente o período até ao quarto mês. Inconscientemente, permanecemos amarrados aos nossos hábitos, costumes, amigos, família e língua. À nossa cultura portanto.
Estes sentimentos que vos transmito, acabam por ser um desabafo e reflexo de algumas hesitações, uma vez que estou disposto a apostar no Dubai, neste mercado, a evoluir e até a crescer mais como pessoa e como profissional.
O Dubai é para muitos, principalmente para os que cá nunca viveram, uma terra de sonho. Na minha opinião, já o foi. Neste momento, tropeça precisamente nas mesmas hesitações em que eu tropeço. O Emirado do Dubai encontra-se tal como eu, também entre a espada e a parede, ou se preferirem, entre o sonho e as suas origens, pois há quem acredite no seu potencial e há também quem o critique por ser um “pequeno pedaço de pecado” para a cultura árabe. O Dubai , para ter o que ambiciona e idealiza, terá de se libertar de costumes e regras, terá de esquecer a sua cultura, terá de criar uma nova identidade, caso contrário será daqui a uns anos uma cidade fantasma. No dia em que as obras pararem e 25% dos guindastes de todo o mundo deixarem de ser utilizados, as pessoas que cá trabalham voltam para as suas terras. Ninguém, na minha opinião, com uma mente sã e equilibrada quer viver, ou até constituir família no Dubai. Jamais se sentirá em casa, será sempre rotulado como “não árabe”, um elemento externo, um indivíduo que apenas está ali para executar ordens de quem tem dinheiro, e que por mais gerações familiares que tenha desenvolvido no Dubai, nunca poderá ter a nacionalidade local, pois as leis assim não o permitem. Ou a mentalidade muda e o Dubai passa a ser um pedaço verdadeiramente multi-cultural, cosmopolita, “universal”, situado em território árabe ou a humanidade vai, não volta, e vira costas ao misto de Cidade dos sonhos com mentalidades absolutas, por vezes bárbaras, que é o Dubai.
Os Emirados Árabes Unidos, em imagens :
O VISIONÁRIO - His Highness Shaikh Zayid bin Sultan Al Nahyan.
Sua Alteza Presidente Sheikh Khalifa bin Zayed Al Nahyan, Governante de Abu Dhabi
Sua Alteza Vice-Presidente, Primeiro Ministro Sheikh Mohammed bin Rashid Al Maktoum, Governante do Dubai
United Arab Emirates Rulers
From dreams to reality
E em ouro
ou em prata
é só escolher
Grand opening Atlantis The Palm Hotel (A inauguração custou $20 milhões)
Grand opening - Atlantis The Palm Hotel
Dubai Horse Race World Cup
Gostaram? Então não viram nada!!
AQUI VAI...
...A outra...
...face...
...work.
& the workers...
...que a sorrir...
Trabalham 12 horas por dia e não se incomodam...
Se tiverem um tempinho leiam este artigo que saiu no THE INDEPENDENT:
Homem, a tua visão abrangente, informada, descomplexada, realista e pujante entra-me pela mente como uma bala... Fantástico!! Sejamos honestos, nunca pensei ler-te assim... Não porque não tivesses demonstrado esta tua habilidade, quiçá um dom, mas porque nunca a vi... Mais do que aprender com o que escreves, hoje aprendi com o que li e, acima de tudo, aprendi algo sobre mim!!
ResponderEliminarObrigado... Fenomenal
Grande abraço de quem está perto!
Carlos
Regressei,após uns dias de ausência.
ResponderEliminarAdorei ler a outra face do Dubai e do teu blog.Levaste para essas terras com cheiro a especiarias,a garra do povo que as descobriu.Sente-se o espírito do lusitano lutador,conquistador,"descobridor" e
aventureiro, sem temer as tormentas dos cabos, e capaz de fazer frente ao Cabo das Tormentas.
Essa tua força garantidamente, levar-te-á longe.
Quanto ao lado negro do Dubai,conseguiste mostrá-lo com grande realismo através das fotografias.....Essa é a realidade que não vem nos guias turísticos,mas é o dia-a-dia de seres humanos iguais a quem os explora.
Fantástico o teu blog.
Continua a escrever.
MCS
SALAMALEKUM Também para ti!! :P
ResponderEliminarGostei mto do teu blog, e principalmente deste post.. ao ler o teu blog é que me lembrei que realmente estás numa cultura completamente diferente daqui do nosso Portugal.
Apesar de nunca ter feito Erasmus nem nada do genero, sempre tive a convicção que a experiência pessoal é mto maior que a profissional, pq nada se compara ao que se sente, as emoções que se vive, e principalemte ao que se consegue descobrir de si proprio quando se está longe da realidade de uma vida.
Mas vim aqui sobretudo para te mandar um beijo enorme! Fico à espera de mais histórias..
Bjs Pris
O teu pai deu-me o endereço do teu blog para vir ca ver os teus post's. Estava mesmo babado pelo filho, porque nunca pensou que fosse capaz de escrever semelhante coisa. So nao chorou (de alegria) porque parecia mal. Realmente a reflexao ficou excelente. Estas a crescer.
ResponderEliminarBeijinhos e votos de muito sucesso, Isabel
É mais do que hora para falar algo sobre o que outros, afinal, já têm comentado e exaltado. Estou a referir-me, claro, ao teu estilo de escrita. Os factos, as ideias, os sentimentos, vão brotando e vão fluindo com naturalidade, com simplicidade, mas duma forma expressiva e bastante cativante. Estou gostando, meu rapaz.
ResponderEliminarHá agora outro ponto que gostaria de trazer ao de cima. Boa parte da tua narrativa mostra e demonstra que és um bom observador e olhas a direito para o mundo que te circunda. E isso é francamente bom. É uma qualidade que sempre se deve cultivar. Dá-nos uma melhor percepção das pessoas, das coisas, dos acontecimentos, abre-nos o campo de análise, amplia-nos o conhecimento e permite-nos descer ao pormenor, por vezes tão útil quanto decisivo. E tudo isso representará uma mais-valia em relação àqueles que apenas “olham mas não vêem”.
Tens pois um olho sensível mas não te ficas por aí. As conclusões que tiraste no final do teu “83” provam isso. Na verdade, tu não só observaste como depois fizeste a tua análise e, por fim, tiraste conclusões sobre o futuro do Dubai. Perfeito o esquema. Bem vistas as coisas, a investigação científica ou tecnológica faz o mesmo. A investigação monta o seu campo de estudo onde vai colher dados que, depois, discute para finalmente tirar conclusões. Todo este jogo, na minha perspectiva, é muito valioso, na medida em que tu mostraste uma relevante qualidade. Tu mostraste que pensas, João, e que pensas nos outros, o que não é muito comum nos nossos dias.
Com tantos elogios que tens recebido é natural que te sintas meio inchado. Entretanto eu sei que os teus merecimentos serão sempre superiores ào peso que a tua humildade lhes dá.
Abraços do “vozão”
É mais do que hora para falar algo sobre o que outros, afinal, já têm comentado e exaltado. Estou a referir-me, claro, ao teu estilo de escrita. Os factos, as ideias, os sentimentos, vão brotando e vão fluindo com naturalidade, com simplicidade, mas duma forma expressiva e bastante cativante. Estou gostando, meu rapaz.
ResponderEliminarHá agora outro ponto que gostaria de trazer ao de cima. Boa parte da tua narrativa mostra e demonstra que és um bom observador e olhas a direito para o mundo que te circunda. E isso é francamente bom. É uma qualidade que sempre se deve cultivar. Dá-nos uma melhor percepção das pessoas, das coisas, dos acontecimentos, abre-nos o campo de análise, amplia-nos o conhecimento e permite-nos descer ao pormenor, por vezes tão útil quanto decisivo. E tudo isso representará uma mais-valia em relação àqueles que apenas “olham mas não vêem”.
Tens pois um olho sensível mas não te ficas por aí. As conclusões que tiraste no final do teu “83” provam isso. Na verdade, tu não só observaste como depois fizeste a tua análise e, por fim, tiraste conclusões sobre o futuro do Dubai. Perfeito o esquema. Bem vistas as coisas, a investigação científica ou tecnológica faz o mesmo. A investigação monta o seu campo de estudo onde vai colher dados que, depois, discute para finalmente tirar conclusões. Todo este jogo, na minha perspectiva, é muito valioso, na medida em que tu mostraste uma relevante qualidade. Tu mostraste que pensas, João, e que pensas nos outros, o que não é muito comum nos nossos dias.
Com tantos elogios que tens recebido é natural que te sintas meio inchado. Entretanto eu sei que os teus merecimentos serão sempre superiores ào peso que a tua humildade lhes dá.
Abraços do “vozão”
Querido primo, é de facto uma surpresa ver e sentir nas tuas palavras essa tua experiência, a busca de um sonho, de uma evolução como ser humano...mas é apenas surpresa porque nunca tinha lido algo escrito por ti. Tudo o demais não me surpreende assim tanto, e não me surpreende porque sempre foste uma pessoa livre..livre de preconceitos, livre na forma de pensar, livre na forma como fazias as coisas (e que tantas dores de cabeça deu àqueles que te são mais proximos)..mas é essa liberdade que te permite olhar à tua volta e analisar o que vês com sentido crítico, sem os clichés impostos pelo que parece bem dizer...é essa liberdade que te permitiu ir à procura de um sonho..e sim, sem dúvida pessoal. E ainda bem...Hoje, muitos vivem apenas em função das carreiras e abdicam de tanto, deixam de olhar para os outros, deixam de olhar até para a própria vida..espero que todas as experiências na tua vida sejam, acima de tudo, pessoais. Evoluir profissionalmente é fantástico, embora, na minha humilde opinião, só valha a pena desde que isso faça parte dum caminho pessoal, que evoluamos como pessoas melhores, mais completas, e não que a parte profissional nos torne mais pequeninos, menos atentos e que sobretudo não nos impeça de viver dessa forma livre como seres com identidade própria..
ResponderEliminarÉ perfeitamente normal que sintas esse vazio, vazio da tua zona de conforto, da tua família, dos teus amigos, dos teus espaços, do cheiro do nosso país..é sinal que amas, é sinal que todas essas pessoas são importantes...mas também é positivo. É saudável por vezes afastarmo-nos e vermos como tudo o que construímos é tão importante, é saudável quando voltares poderes mimar todas essas pessoas..vais ver que depois disto vai ser muito mais difícil acomodares-te e tomares como adquirido tudo o que te rodeia. É bom podermos olhar o mundo com outros olhos..isso é algo que muitos só conseguem muito tarde nas suas vidas..tenho a certeza que com esta experiência vais consegui-lo muito mais cedo.
E neste caminho nunca penses que estás sózinho..há sempre alguém aqui, para além obviamente dos teus pais e do teu irmão, que se lembra muito de ti..
Obrigada pela partilha, não tenhas medo de dizeres o que sentes, continua sempre assim...
Um grande bem haja para o 83!!!
A tua prima que te adora está aqui online...vai dando notícias e quando quiseres falar basta dar um toque..muitos beijinhos, aproveita e vive a vida! Prima Raquel