terça-feira, 28 de abril de 2009



CAPÍTULO II - The concrete Jungle

Após três meses no Golfo e de algumas tempestades no deserto tudo parece ter entrado nos eixos. As histórias já são muitas, umas boas, outras nem tanto, tantas que nem sei por onde começar.



Hindubai
Talvez seja de bom tom começar por onde terminei, ou seja, pelo casamento Indiano ou Hindu ou vai tu... porque eu já estive num e dificilmente me apanham noutro nos próximos tempos! Não pensem que não gostei, simplesmente estou habituado ao copo de água ou melhor, ao copo de vinho, verde, tinto ou branco e ao queijinho da serra. Contudo, não posso deixar de frisar que esta foi sem dúvida uma experiência única. Um momento de reflexão interior, que serviu também para tocar outra cultura e ser surpreendido.
O templo hindu fica numa espécie de gueto em Bur Dubai, com ruas estreitas e sujas, manchadas de tinta com pétalas vermelhas e chinelos avulso, onde a mistura de cheiros e cores me fazem lembrar sítios onde nunca estive, apenas os vi na televisão, num qualquer documentário sobre os subúrbios de Nova Deli. A comitiva Portuguesa estava lá. Eu, João Sardo, Tiago Soares e o nosso Director, Dr. Sérgio Espadas. Todos nós olhávamos em redor, procurávamos ar, oxigénio, um espaço à sombra que desse para respirar fundo. Missão impossível!
Cumprimentámos toda a família, trocámos algumas palavras e lá nos descalçámos. A minha pessoa nunca se imaginaria naquele estado. Estavam 35º, vestido de fato e gravata, o meu corpo fervia, e continuava descalço, a pisar pés e a ser pisado, tal era o tráfego humano que se fazia sentir naquelas ruas,com 1,5m de largura por 2,0m de altura. Estava preparado para o que desse e viesse. Pior, só mesmo no deserto, com 50º, ... de fato e gravata, cheio de sede, a olhar para os camelos e saber perfeitamente que aquele seu olhar ternurento não conseguia disfarçar aquilo que eu há muito sabia, ou seja, aqueles dois altos que aí tens “meu grande camelo” não são duas baquets Recaro de um super desportivo, mas sim dois tanques de água potável... Felizmente Mr.Sunil Shanker tinha pensado em tudo, e no meio de um pensamento o mais optimista possível, ouço uma voz “ Jay D, Jayy Diiii(J.D de João Dias), take it…it´s for you” Ali estava o produto que eu considero mais valioso por estas bandas…uma Masafi fresquinha = Luso fresquinha. Quando dei aquele primeiro gole de água, até as células mais pequenas, mais minúsculas, mais “nano” que podem existir no corpo humano refrescaram.
Entrámos no templo e tudo melhorou, as ventoinhas estavam todas no máximo e começávamos a assistir a rituais por nós, nunca antes observados. As pessoas colocavam-se em posição de flexão e beijavam o chão, de seguida levantavam-se, enchiam uma taça com um líquido branco dentro de um bidão que, mais se parecia com a cal que o meu rico avô utilizava para pintar as paredes da casa das Mouriscas e entornavam-no, sem medos numa espécie de caleira, em frente ao altar hindu, que transferia novamente o líquido para um bidão. E assim era o ciclo do estranho líquido esbranquiçado.
Depois de três ou quatro minutos a apreciar os rituais hindus, fomos convidados a subir ao 2º piso, local onde se iria realizar a cerimónia do casamento. A meio da escadaria dão-me um barrete semelhante ao que os marinheiros usam e explicam-me que o devo colocar na cabeça, caso contrário não posso entrar. Pensamento Inevitável… “já me enfiaram o barrete”, foi a primeira coisa que pensei antes de entrar no 2º piso.
Estava completamente enganado, adorei a cerimónia, as rezas, os rituais, os cânticos, a mistura de crenças. Tudo se tornou mágico e único. Todo aquele sentimento de desconforto e exclusão, desapareceu, sentia-me abençoado por estar ali, pude sentir e absorver a paz. Tinha deixado de ser um intruso. Deixei-me levar pelo momento, pelo meu lado mais espiritual, que tão poucas vezes cultivamos, mas que sem dúvida nos enche a alma. Aqui não há surf, não há altares iguais aos da Ericeira, não há “avenidas” compridas, limpas, a brilhar e que em dias perfeitos, é admiravelmente comum ficarmos encandeados com o reflexo na água dos primeiros raios de sol de um novo dia. Tenciono com isto dizer que no meio do Globo, local onde me encontro, não há baías dos Coxos, Ribeiras d’ilhas ou até mesmo um Zavial. Para os mais leigos nestas matérias, refiro-me a point breaks com ondas perfeitas, compridas que se assemelham com as vias do paraíso e que muitas vezes acabam por ser a minha igreja, o meu altar e me lavam a alma. Em tempos de mudança, temos de aprender novas formas de cultivar o espírito. Eu aqui, ainda as procuro e certamente irei encontrá-las.



A Família e os noivos



E agora? o que é que eu faço? Humm? Rezo?



Lá está...reza!!





Filho do Sunil (Mihji)



Durante a cerimónia






A 320 Km/h

Passando de um plano espiritual para um plano inocentemente material, irei contar-vos duas das melhores experiências que tive, até agora, no Dubai. Falo-vos do meu dia no Dubai Autodrome, para assistir às Speedcar Series 2009 e da Fantastik Plastik Party. Começando pelas Speedcar Series: O convite foi feito pelo João Gouveia, um dos muitos engenheiros portugueses, “convocados” para trabalhar nos E.A.U. O João, só podia ser João, por norma, grandes homens e de bom coração, cedeu-nos credenciais que permitiam o acesso a qualquer parte do Autódromo. E assim sendo,ali estava eu juntamente com os meus dois camaradas da Aicep, a explorarmos todas as boxes, a entrarmos em carros com mais cavalos do que peças, a abrirmos portas e mais portas em busca de mais. Não nos chegava o facto de termos trocado algumas palavras e tirado fotos com alguns dos nomes mais sonantes da história da Formula 1, como Jean Alesi ou Johnny Herbert, queríamos mais, eu pessoalmente, queria entrar na pista de Ferrari 430 Scuderia e ouvir o rugido daquele “ser vivo metálico” a 320 km/h na recta da meta. Até já nem me importava se não fosse eu a conduzir, até podia ser esse tal de Jean Alesi ou o outro Johnny qualquer coisa. Acabou por ser um grande dia, tão bom que, até as meninas da Fórmula 1 queriam tirar fotos connosco! UPS! Talvez tenha trocado a ordem das palavras. Mas, afinal quem é que não quer tirar umas fotos com as meninas do guarda-sol, nem que seja para ficar dois minutos à sombra, em boa companhia, a trocar umas impressões sobre o estado do asfalto, ou até sobre quais os pneus adequados para se conseguir a pole position e, quem sabe, depois de uma conversa meramente técnica e bastante apelativa para qualquer mulher, sair debaixo do guarda-sol, com uma Haiffa Rania Zayed AlNayhal, gravada nos contactos do meu Nokia made in China.


Eu e o meu caro amigo Jean Alesi

A amiga do Jean Alesi

Tiago, JOHNNY HERBERT, J.Sardo e eu.

Depois apresento-vos a Dra.!

Nas boxes da Kawasaki



"FANTASTIK"

Galgando de um plano material para um plano irreal, falo-vos agora da Fantastik Plastik Beach Party. Não sei como explicar o local onde estive, mais se parecia com uma festa organizada pela Fashion Tv. O Plastik é um espaço situado em Jebel Ali, a cerca de 30 minutos do Dubai. Fica em cima da praia, a 20 metros da água. Quando cheguei nem quis acreditar. Era uma festa um pouco ao estilo daquelas que todos nós sonhamos um dia dar. No Plastik, só se entra com nome na guest list, pois as festas são sempre privadas. Tive a sorte, de no dia anterior conhecer Miss Lee, uma Sul-africana espectacular, extremamente simpática e que por sinal é uma Relações Públicas bastante influente nestas andanças. Foi através dela que conseguimos a entrada na Plastik Party. A festa começou às 18.00h e acabou às 2.00h. O ambiente era brutal, de cortar a respiração. Havia palmeiras desde o Plastik até ao mar, toda as pessoas estavam de fato de banho, dançava-se na praia, na água, em camas suspensas, nos Jacuzzis. O sound system era de luxo e havia caipirinhas. Que mais se pode desejar num sábado à tarde?








NOT SO FANTASTIC
Parental Advisory - Censured

As histórias anteriores, como devem calcular, pertencem ao lote das boas experiências. Porém, nem tudo até agora, foi um mar de rosas.
Era 2ª feira, 14:00h quando o Tiago, comentou que não se estava a sentir bem, sentia fortes dores de garganta e a febre estava a apoderar-se da sua boa disposição. O ar com que expressou aquelas palavras foi suficiente para prever o pior. Aqueles sintomas já eu os conhecia de ginjeira. Não queria acreditar no que estava a ouvir, era ela, estava a chegar, percorreu milhares de quilómetros, demorou dois meses de viagem, mas tinha chegado, era a nossa amiga da elite, a AMIGDALITE. Ainda não eram 19.00h horas e já estávamos a entrar no Emirates Hospital. Sem forças e a tremer que nem varas verdes, o Tiago lá entrou para a sala de urgências. É espantosa a rapidez com que se é atendido num hospital, exactamente o oposto do que acontece em Portugal. Nem tinham passados 5 minutos e lá ia o Tiago ser diagnosticado. “Esta é daquelas poderosas “ pensava eu. Nunca tinha visto uma AMIGDALITE atacar com tanta pujança, tão rapidamente. O termómetro marcava quase 40, temperatura mais do que suficiente para deixar o nosso colega completamente Knock-Out, a revirar-se em cima da marquesa, a queixar-se de dores enormes, de falta de sensibilidade nos braços, de sede e do nó da gravata. Sim, é verídico, com toda aquela inquietação, o Tiago nem se tinha lembrado de tirar a gravata. Pedia-nos água, panos frios para pôr na testa e que não deixássemos a enfermeira dar-lhe mais nenhuma injecção, pois a sua fobia por agulhas é colossal, e já lhe bastava o facto de saber que estava a ser bombardeado com soro. Tanto eu como o J.Sardo estávamos incrédulos a olhar para todo aquele sofrimento. Nisto, e com um ar super aliviado, como se estivesse escapado a um terrível acontecimento, o J.Sardo olha para mim e diz “Epah.. ainda bem que já não tenho amígdalas, tiraram-mas ainda eu era uma puto”, ao que eu pensei…”Obrigado João Sardo por me lembrares que eu ainda as tenho e que cada vez que apanho uma, só as curo com injecções de penicilina. Mas, o “melhor” ainda estava para vir… eram 19.30 quando entrou a equipa de enfermeiros que estava a assistir o Tiago. A enfermeira avisou que seria necessário ter de tirar sangue e de injectar Voltaren no Tiago. Foi aí que começou a saga, o Tiago passou-se! Mesmo com todo o sofrimento, vozeava sucessivamente com toda as forças que lhe restavam, ao bom modo de Gaia, em bom português e a carregar a fundo nos r’s e nos p’s que não ia levar mais nenhuma injecção e que muito menos a ia levar abaixo da cintura. Após várias tentativas e passados 25 minutos lá conseguimos convencer o paciente a seguir as instruções da enfermeira, ou seja, a ter de “levar duas espetas violentas”, uma na nádega e outra no braço que, dizia já não sentir. Há situações em que não é preciso gozar de um sexto sentido para adivinharmos o que lá vem. Este era um desses momentos. Depois da enfermeira lhe ter tirado sangue e de ter ouvido, em decibéis ilícitos alguns impropérios dirigidos à sua pessoa, e de eu chorar a rir agarrado às paredes, sabia que o caos ia começar no preciso momento em que o Tiago levasse a segunda injecção. Eu sei, que no meio de tanto sofrimento parece sádico da minha parte estar a dizer-vos uma coisa destas, mas naquele momento até o mais puro e piedoso ser humano se desmanchava a rir. Em posição de defesa, todo contraído, hirto que nem betão o Tiago respondia com o seu sotaque do Norte, à enfermeira “ como é que queres que eu esteja descontraído minha bááca, sei que vou levar com essa meeer###### no cú f#####!! Ai que Filipina do ca#aaalh#, anda lá com essa mer#aaaa ! E nisto ZAAAAAUUU, o Emirates Hospital ia indo abaixo com os rugidos do Dr. Tiago Soares AAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHH queee Báááácccaaaaa do c"#l#####, sua P#####, ainda não estava preparado minha bácaaa, quee P#### DO C###### não sabes dar injecções sua báácaa.
Eram 21.00h quando abandonámos o hospital, o sofrimento do Tiago ainda durou uns dias mas, felizmente, tudo voltou ao normal. Nem uma semana tinha passado e lá estávamos nós outra vez no Emirates Hospital, na mesma sala, com os mesmos enfermeiros, agora era a minha vez. Felizmente, a minha amigdalite não foi tão violenta, bastou-me tomar durante uma semana, todos os dias, dois comprimidos de amoxacilina, mais outros dois de spidifen, mais quatro gargarejos de betadine, mais uma pastilha efervescente de Vitamina C e alguns Strepsills de 3 em 3 horas para ficar bom. Coisa pouca, portanto. Resumindo: quem é que se safou? O Dr. João Sardo, que já não tem amígdalas desde os seus tempos de infância.


Tiago - ter "amigas da Elite" dá nisto



OHHH MAN!

É inacreditável, a quantidade de coisas que vemos e descobrimos nesta zona do planeta!
O Prazo do nosso visto chegava ao fim dia 28 de Março, e por isso mesmo, tivemos de abandonar os Emirados e rumar ao país vizinho (Omã) para renovarmos o visto por mais dois meses. Omã é Sultanato, que como o nome indica, é a terra e propriedade de Sua Majestade Qaboos bin Said Al Said, Sultão de Omã.
E já que iríamos pisar novas terras, decidimos que seria enriquecedor visitar a capital, Muscat. Até porque, arquitectávamos contemplar os Fortes Portugueses deixados pelos nossos heróis do mar, por volta de 1508.
Mostrou-se, sem dúvida, uma experiência enriquecedora para todos nós, sentirmos pela primeira vez, que tínhamos descoberto a cultura árabe, aquela que imaginávamos encontrar antes de nos desamarrarmos da nossa pátria. Ali, vive-se numa realidade diferente, o povo busca outra qualidade de vida, existe um contacto mais próximo com a natureza e até mesmo com as pessoas. As tardes são passadas com os amigos e familiares, trocam-se ideias e histórias nas marginais. Junto ao golfo, os putos jogam à bola descalços, são fanáticos por futebol, tanto ou mais do que em Portugal. Como seria de esperar, todos sabem quem é o Cristiano Ronaldo e o Figo mas mais importante do que tudo isso, sabem que os dominámos em 1508. Perguntam-nos, inclusivé, se não temos uma bandeira Portuguesa que lhes possamos ofertar.
Omã, ou Ohh Man (expressão utilizada por qualquer pessoa que atravesse a fronteira para Omã), é um país tipicamente Árabe.
Em Omã não se avistam prédios altos e muito menos arranha-céus. Existem sim, casas térreas, com um toque tipicamente mouro.
Posso dizer que tivemos mais ou menos 24 horas para conhecer Omã. Iríamos apenas ficar por uma noite, dormir por umas horas, para conseguirmos explorar ao máximo todos os cantos daquela magnifica cidade montanhosa com cores avermelhadas. Não irei rapinar mais o vosso tempo, a tentar explicar a beleza de Muscat. As imagens que seguem mais abaixo, servem perfeitamente para vos mostrar tudo isso e muito mais!



A caminho de Omã

Mesquita de Omã

Oni (Objecto não identificado) em Omã

Sun is shining, the weather is sweet...







Os campos de futebol

A vista do meu quarto em Muscat...



Os três "mesquiteiros"

Mesquita de Muscat



Muscat

Muscat




Operação “Tempestade no deserto “

Esta famosa expressão, bastante amplificada desde a Guerra do Golfo mas abafada pelo tempo, ressurgiu há coisa de um mês atrás. Desta vez, a guerra seria outra. Nas estações meteorológicas não se falava de outra coisa, a tempestade estava para chegar, raios e coriscos iriam assaltar o emirado Dubai. E assim aconteceu, logo na tarde em que tínhamos sido convidados para irmos andar de Kart. Pensámos que seria apenas uma tempestadezita à moda Portuguesa, uma chuvinha, uns trovões e um pouco de vento a mais para o que é normal. Crentes de que não seria nada de mais, dirigimo-nos para o Kartódromo. Uma viagem que normalmente tem a duração de 25 minutos, prolongou-se por quase 2 horas. Nunca magiquei, que fosse possível merendar toneladas de areia vindas a velocidades não permitidas por Sua Alteza Vice-Presidente, Primeiro Ministro Sheikh Mohammed bin Rashid Al Maktoum, Governante do Dubai, muito menos por Sua Alteza Presidente dos E.A.U Sheikh Khalifa bin Zayed Al Nahyan, Governante de Abu Dhabi e ao mesmo tempo ser sovado com quilos de granizo a uma temperatura ambiente de 30º. Resumindo, por estas terras … it´s kind of fun to do the impossible e eu que, já aqui estou há quase 3 meses, já tinha a obrigação de o saber.



"When lightning hit the world's tallest tower!
For as long as half hour lightning hit the tower and the thunder sounded all over the neighouring areas! An unforgettable night! Burj Dubai Tower"

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